domingo, 27 de fevereiro de 2011

Ontem o dia poderia ter terminado bem...

Ontem, após um longo dia de trabalho, meu corpo cansado e minha mente a mil, estava indo para casa, ja confabulando planos e organizando em mente o dia seguinte, estava no metrô, aguardando o carro na plataforma, atrás da linha amarela, em poucos minutos o carro entrava na plataforma da estação mas um barulho estranho chamou a atenção dos poucos passageiro que como eu aguardavam o carro parar, foi um choque, com luzes de curto circuito, um cheiro de queimado, uma confusão e o trem parou praticamente na metade da estação, do lado direito um rapaz desesperado, com a mão na cabeça e andando na direção dos últimos vagões dizia " esse ja era", "noossa, o cara pulou, esse ja era", quando me dei conta de que o que ele se referia era um cara que acabara de se jogar na frente do carro. A confusão era tamanha, varias pessoas falando, e bastou dar alguns passos adiante para ver no vão entre o trem e a plataforma que de fato havia uma pessoa la, e o meu instinto, até da curiosidade foi tentar identificar se era conhecido, pois naquela região conheço muita gente porque trabalhei um bom tempo por la, então eu vi, do lado externo dos trilhos o rosto e o braço paralisados no chão, foi o que deu para ver, havia um rapaz tentando isolar a área até a chegada dos outros funcionários, mas a aglomeração foi aumentando em meio aos infelizes comentários do tipo" justo agora, porque não se jogou da ponte?", enquanto meus pensamentos foram tentar chegar a uma conclusão do que leva alguém a fazer isso. Enquanto a confusão tomava conta eu parei perto da plataforma e fiquei observando todas aquelas pessoas vivas, com a mesma vontade que eu, ir para casa, enquanto um corpo mutilado no chão e uma alma perdida eram o centro das atenções, e de repente bastava uma atenção para o cara permanecer vivo.
Uma coisa é você ouvi alguém falar que uma pessoa se matou ou um estranho cometeu suicídio, outra coisa é você ver um corpo que antes tinha vida como o meu corpo. A confusão da minha cabeça vagava nos últimos pensamentos do cara antes de tomar tal atitude e se confundia com os comentários das pessoas, algumas chocadas, outras assustadas, outras irritadas...então orei, pois acredito que a vida acabou para ele mas sua alma vai carregar essa responsabilidade, sabe Deus até quando.
Conclui que é fácil falar sobre um suicida após o crime contra a própria vida, dizer que ele poderia ter buscado ajuda em qualquer religião, com qualquer pessoa ou em si mesmo, mas eu me sinto impotente porque todos os dias cruzamos com varias pessoas que precisam de ajuda mas o cabresto da rotina não nos da tempo para dar atenção a essas pessoas, as obrigações dessa cidade tirana nos transformou em seres egoístas e egocêntricos, onde qualquer ajuda é caridade, e caridade precisa ter tempo para fazer e ninguém tem esse tempo porque precisa trabalhar e ganhar dinheiro para manter o melhorar o que ja tem. Muitas vezes nós mesmo precisamos de ajuda, muitos, se não todos, ja tivemos os mesmos pensamentos e intenções desse suicida e não tivemos a coragem dele, ora porque mudamos o foco, esperamos o dia acabar para chegar outro novo e levar consigo a melancolia, ora porque temos muito medo da morte, do fim. O fim para quem permanece vivo é assustador, porque ninguém tem a certeza do que vai encontrar do outro lado. O que eu sei é que, após ter descarregado essa angustia no lugar certo, fontes seguras me informaram que esse cara, que nem sei o nome, esta muito mal, o sofrimento e problemas não acabaram com tal atitude, embora era isso que ele mais queria. Se parar pra pensar, foi uma vida planejada consciente e inconscientemente, que levou 9 meses para ser gerada e poucos segundos para ser destruída, sem nenhuma justificativa a altura, sem uma outra chance, mesmo que depois de várias, e isso não é certo, sem contar as pessoas que vão ficar impressionadas com isso, seus familiares e amigos que vão carregar a culpa de não ter feito nada para impedir, por mais que não seja hora de pensar nos outros porque ninguém pensou nele a atitude de ir e vir é dele, a vontade e a ação é dele, que deveria se dar a chance de mudar seu rumo, porque não era sua hora ainda...talvez em breve terei noticias, vou continuar orando por ele, acho que é o mínimo que posso fazer.
Diante de tudo isso o que vale é a reflexão de que quando não se tem ajuda daqueles que gostaríamos de ver de braços abertos, de mãos estendidas, temos um força interior, uma energia inesplicavel dentro de nós, a mesma que ja nos fez superar outras dores tão fortes a ponto de nos bloquear o acesso através do esquecimento, a mesma que nos fez elaborar a perda de um ente querido, de superar o sofrimento por amor ou rompimento, a mesma que nos fez levantar da queda de uma situação financeira ou profissional que não enxergávamos a solução, a mesma força que nos tornou mais fortes, a ponto de continuar vivo em meio aos escombros, após um acidente automobilistico, um procedimento médico desenganado, a mesma força que nos desvia do fim porque somos mais corajosos do que aqueles que abrem mão da coragem de enfrentar e criam forças para a coragem de acabar com tudo.
Engraçado que meu texto esta parecendo aqueles textos de auto ajuda, rs, mas foi o que senti e concluí, porque se para se matar tem que ter coragem para viver tem que ter mais coragem ainda, e cada um tem seu coração para interpretar essa força interior que mencionei exatamente como quiser, e se tocar que existe muito ainda a se fazer por si e pelos outros ao invés de esperar até outro suicida se jogar na linha do trem.

2 comentários:

  1. Os homens semeiam na terra o que colherão na vida espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza.
    (Allan Kardec)

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  2. Os homens semeiam na terra o que colherão na vida espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza.
    (Allan Kardec)

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